quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Cetonas de Framboesa (raspberry ketones) | O que é? Emagrece?


Antes de 2012, ninguém fazia a mínima ideia do que eram cetonas de framboesa. Após um tal de “Dr.” Oz ter falado no “milagre das cetonas framboesas” na queima de gordura que este suplemento ganhou entrada direta para a vitrina das lojas de suplementos.
Mais conhecidas pelo seu nome em inglês – raspberry ketones -, é afirmado que as cetonas de framboesa estimulam a queima de gordura e que aumentam os níveis de adiponectina, uma hormona que regula os níveis de glicose e a oxidação da gordura.
Este artigo faz uma abordagem científica às cetonas de framboesa. Serão as raspberry ketones o novo suplemento sensação para queimar gordura?

O que são cetonas de framboesa?

As cetonas de framboesa são substâncias naturais que dão às framboesas o seu forte aroma. Apesar do nome, elas também estão presentes noutros frutos silvestres, como nas amoras e nos arandos. Muito antes de estarem disponíveis como suplemento alimentar, já eram usadas como fragrância em perfumes e como aromatizantes em vários tipos de alimentos processados.
Apesar do nome “framboesa” ser bastante sugestivo, os suplementos de raspberry ketones não são produzidos a partir de framboesas. Extrair cetonas de framboesa das framboesas é um processo inacreditavelmente caro. Um quilo de framboesas possui apenas entre 1 a 4 miligramas de cetonas de framboesas. Já conseguem imaginar a quantidade de framboesas que seriam necessárias para produzir uma única embalagem deste suplemento.
Na verdade, os suplementos de raspberry ketones são produzidos de forma sintética e não natural (o que não é necessariamente um problema, apenas uma curiosidade) [*1][*2][*3].
 raspberry-ketones

Como funciona a cetona de framboesa?

O que torna a cetona de framboesa tão interessante do ponto de vista científico é a sua estrutura molecular semelhante a outras duas moléculas: a capsaicina (encontrada nos pimentos) e a sinefrina (um estimulante).
Vários estudos mostraram que estas duas moléculas estimulam o metabolismo [*4][*5]. Por essa razão, estes dois ingredientes são encontrados em vários suplementos termogénicos. Os cientistas especulavam que as cetonas de framboesa poderiam ter um efeito semelhante.
Em 2010, uma equipa de investigadores isolou células adiposas de ratos e avaliou o impacto das cetonas de framboesas in vitro. Estas foram as observações [*6]:
– as cetonas de framboesa aumentaram o processo de lipólise (quebra de gordura) ao tornar as células adiposas mais sensíveis aos efeitos da hormona norepinefrina, que estimula a queima de gordura.
– as cetonas de framboesa fizeram com que as células adiposas libertassem mais adiponectina.
Conforme referido anteriormente, a adiponectina regula o processo da quebra de gordura. Pessoas magras possuem níveis mais elevados de adiponectina relativamente a pessoas com excesso de peso. Está cientificamente demonstrado que as pessoas que perdem peso conseguem aumentar os níveis desta hormona [*7][*8].
No entanto, mesmo que as cetonas de framboesa tenham aumentado os níveis de adiponectina nas células adiposas isoladas dos ratos, isso não significa que o mesmo acontecerá num organismo vivo. Vale a pena lembrar que existem formas cientificamente comprovadas para aumentar a adiponectina como, por exemplo, praticar exercício físico [*9]ou beber café [*10].

Cetonas de framboesa ajudam a perder peso?

Um estudo feito em ratos mostrou resultados promissores. Neste estudo, um grupo de ratos foi alimentado com uma dieta rica em gordura. Alguns deles também consumiram cetonas de framboesa. Os resultados foram aqueles que podem ver na seguinte imagem:
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Conforme podem constatar, os ratos que consumiram as raspberry ketones pesaram, em média, 50 gramas no final do estudo. Aqueles que não as consumiram, pesavam, em média, 55 gramas (uma diferença de 10%) [*11].
Atenção que este estudo não demonstrou que as cetonas de framboesa ajudam a perder peso. Ele mostrou sim que a suplementação com cetonas de framboesa pode impedir a pessoa de ganhar o peso esperado em resultado da sua dieta hipercalórica e rica em gordura, muito possivelmente através dos mecanismos descritos anteriormente.
Outro estudo realizado também com ratos alimentados com uma dieta rica em gordura mostrou que as raspberry ketones aumentaram os níveis de adiponectina e protegeram os ratos da condição de fígado gordo (doença que resulta da acumulação excessiva de gordura neste órgão) [*12].
Parecem resultados bastante interessantes, porém com um senão. Os ratos foram suplementados com doses de cetonas de framboesa bastante elevadas, muito mais elevadas do que as doses recomendadas nas embalagens destes suplementos.
Um a dois por cento da dieta destes ratos era constituída por cetonas de framboesa, ou seja, por cada 100 gramas de alimento, 1 a 2 gramas eram cetonas de framboesa. As doses normalmente recomendadas nas embalagens dos suplementos de raspberry ketones são de 200 miligramas.
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Efeitos secundários & Como tomar

Fará mal consumir uma dose 5 a 10 vezes maior do que aquela recomendada nas embalagens? Não sabemos. Infelizmente, não existe um único estudo de cetonas de framboesas realizado em seres humanos. Não existindo qualquer ensaio clínico feito em seres humanos, não podemos afirmar se consumir 1 ou 2 gramas de raspberry ketones poderá causar algum tipo de dano.
Nos estudos feitos com ratos, estas doses de raspberry ketones não causaram efeitos colaterais negativos. Se estes estudos puderem ser extrapolados para seres humanos, a suplementação com doses altas de raspberry ketones não parece ter efeitos prejudiciais à saúde. Mas, lá está… uma vez que não existem estudos nesta área, o melhor que podemos fazer é jogo de adivinhação.
Devido à falta de estudos sobre a segurança da suplementação com cetonas de framboesa, mulheres grávidas devem evitar o suplemento, conforme sugerido pelo estudo publicado em 2009 [*13].
De qualquer forma, as doses de cetonas de framboesa geralmente consumidas variam entre as 100 e as 400 mg, uma ou duas vezes ao dia.

Conclusão

Se as cetonas de framboesas podem estimular a queima de gordura? Talvez. Se elas de facto fazem isso? Ninguém está em condições de saber, até ao momento. Os estudos científicos em torno deste ingrediente são bastante escassos e carecem de experimentação em seres humanos.
É claro que podem ter algum efeito, no entanto, tendo em conta o estudo da referência [*11], as raspberry ketones parecem ser apenas úteis nos casos em que a pessoa está a praticar uma dieta com altas doses de gordura. Nestes casos, o melhor que as raspberry ketones podem fazer é minimizar os estragos.
Talvez daqui a alguns anos quando mais estudos estiverem disponíveis seja possível tirar conclusões mais precisas. Até lá, o “milagre das cetonas de framboesa” continuará a ser algo demonstrável apenas pela fé de cada um.
Neste vídeo falo sobre as cetonas de framboesas:

REFERÊNCIAS OU NOTAS:
[*1] – Beekwilder, J et. al., Microbial production of natural raspberry ketone, Biotechnol J. 2007 Oct;2(10):1270-9
[*2] – Leverett, R., Rheosmin (“Raspberry Ketone”) and Zingerone, and Their Preparation by Crossed Aldol-Catalytic Hydrogenation Sequences, The Chemical Educator, August 1996, Volume 1, Issue 3, pp 1-18
[*3] – Tateiwa, J et. al., Cation-Exchanged Montmorillonite-Catalyzed Facile Friedel-Crafts Alkylation of Hydroxy and Methoxy Aromatics with 4-Hydroxybutan-2-one To Produce Raspberry Ketone and Some Pharmaceutically Active Compounds, J. Org. Chem., 1994, 59 (20), pp 5901–5904
[*4] – Shin, K & Moritani, T, Alterations of autonomic nervous activity and energy metabolism by capsaicin ingestion during aerobic exercise in healthy men, J Nutr Sci Vitaminol (Tokyo). 2007 Apr;53(2):124-32
[*5] – Stohs, S et. al., Effects of p-synephrine alone and in combination with selected bioflavonoids on resting metabolism, blood pressure, heart rate and self-reported mood changes, Int J Med Sci. 2011 Apr 28;8(4):295-301
[*6] – Park, K, Raspberry ketone increases both lipolysis and fatty acid oxidation in 3T3-L1 adipocytes, Planta Med. 2010 Oct;76(15):1654-8
[*7] – Díez, J & Iglesias, P, The role of the novel adipocyte-derived hormone adiponectin in human disease, Eur J Endocrinol. 2003 Mar;148(3):293-300
[*8] – Coppola, A. et. al., Effect of weight loss on coronary circulation and adiponectin levels in obese women, Int J Cardiol. 2009 May 29;134(3):414-6
[*9] – Kriketos, A. et. al., Exercise increases adiponectin levels and insulin sensitivity in humans, Diabetes Care. 2004 Feb;27(2):629-30
[*10] – Williams, C et. al., Coffee consumption is associated with higher plasma adiponectin concentrations in women with or without type 2 diabetes: a prospective cohort study, Diabetes Care. 2008 Mar;31(3):504-7
[*11] – Morimoto, C et. al., Anti-obese action of raspberry ketone, Life Sci. 2005 May 27;77(2):194-204
[*12] – Wang, L & Meng, X & Zhang, F, Raspberry Ketone Protects Rats Fed High-Fat Diets Against Nonalcoholic Steatohepatitis, J Med Food. May 2012; 15(5): 495–503
[*13] – Holst, L & Haavik, S & Nordeng, H, Raspberry leaf–should it be recommended to pregnant women?, Complement Ther Clin Pract. 2009 Nov;15(4):204-8

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